Música nos rituais
Música está intimamente ligada à Wicca. Canto e dança são obrigatórios em todo sabbath e esbat. Além do lado lúdico destas práticas (a propósito, “esbat” em francês antigo, e “ébat” no atual, quer dizer exatamente “diversão”. “brincadeira”), existe um lado mágico que não pode ser desprezado.
A dança é considerada uma das oito formas de se gerar poder. Enquanto dançamos, liberamos todo o potencial, que exsuda por nossas peles. E cantar é uma forma de se fazer encantamentos: palavras ou versos repetidos com propósito mágico.
Para ilustrar este ponto, vejamos a descrição que Gardner fez de uma experiência bem emblemática:
“Elas [as bruxas] me contaram que podiam me fazer enlouquecer; não acreditei, então elas me disseram para sentar, e me ataram em uma cadeira de forma que eu não pudesse sair. Uma delas sentou-se em frente tocando um tamborzinho; não uma melodia, apenas um tum-tum-tum monótono. Estávamos rindo e conversando no início...pareceu um tempo longo, embora eu pudesse ver no relógio que não era. O tum-tum-tum continuava e eu me senti idiota; elas me olhavam rindo e esses risos me deixavam com raiva. Percebi que o tum-tum-tum parecia um pouco mais rápido e meu coração batia bem forte. Senti ondas de calor, estava com raiva de seus risos idiotas. Repentinamente fiquei furioso e quis pular para me desprender da cadeira; consegui me levantar e teria ido embora, mas logo que comecei a me mover elas mudaram a batida e minha raiva passou”. (Extraído de “Witchcraft Today”).
Não há registro de práticas assim nos dias atuais, felizmente, mas o episódio mostra quão poderosa é a magia da música.
Outra questão que costuma vir à tona é como introduzir a música nos rituais. Certamente, o ideal seria fazer uma performance ao vivo. Melodias tradicionais em instrumentos como flauta, tambor, chocalho, triângulo e violino seriam muito adequadas. O sistro, intrumento egípcio usado no culto a Hátor, que produz um som achocalhado, também poderia ser utilizado. Quem prefere música celta poderia introduzir, de forma muito proveitosa, a tin whistle, o bodhrán e a gaita de foles. Mesmo que os membros não possuam grandes talentos musicais, não é difícil aprender alguns ritmos no pandeiro, tambor ou chocalho.
Mas quando esta não é uma opção viável, não há problema em se usar gravações. Prefira as que começam suavemente e aumentam o ritmo gradativamente. O ideal é que não haja letras, ou que elas não sejam facilmente compreendidas (em línguas mortas ou inventadas, por exemplo). As letras, ritmo e melodia devem ser condizentes com o ritual. Para quem usa ambientes fechados, um aparelho de som pode ser posicionado convenientemente. Pode-se deixar inclusive o controle remoto em um ponto de fácil aceso no círculo, se houver necessidade de uma música especial em determinado ponto da celebração. Se for ao livre, não será difícil encontrar algum equipamento portátil apropriado.
Mas que músicas reproduzir? É questão de gosto pessoal. Particularmente, quando fazemos rituais mais introspectivos, usamos alguma coletânea de música celta suave própria para meditação. Recomendo em especial o disco Celtic Moon. Em sabbaths e datas mais festivas, uma opção de tracklist para quem gosta de música celta é a seguinte:
1- The mystic’s dream. Loreena McKennitt
2- Espiral. Luar na Lubre
3- Queen for a Day (part 2). Blackmore’s Night
4- Loreley. Blackmore’s Night
5- Haste to wedding. Canção tradicional
6- Roi xordo. Luar na Lubre.
7- Old Hag. Canção tradicional
8- O trebon. Luar na Lubre
9- Toss the feathers. Canção tradicional
10- O berce do Sol. Luar na Lubre
Uma opção para quem quiser variar (ou para quem não gostar de música celta) são os trabalhos da banda pagã OMNIA, que merecem ser ouvidos com toda a atenção. Uma sugestão de tracklist usando músicas deste talentoso grupo é a seguinte:
1- Mabon
2- The wylde Hunt
3- The Sidhenearlahi Set
4- Tine Bealtaine
5- Pagan Polska
6- An Dro
7- Teutates
8- Lughnasah
9- Dil gaya
10- Namndermans-Ola
Boa música e bons rituas!
Fernando Meyer.
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